terça-feira, 30 de outubro de 2012

O Melindre

MELINDRE, segundo consta no Dicionário Aurélio1, trata-se de um substantivo masculino que dentre outros significados, aplica-se também para "Facilidade de magoar-se, de ofender-se".


Realmente é incrível a facilidade que possuímos de nos sentirmos magoados, ofendidos, vilipendiados, desprezados, esquecidos e atacados em nossa "honra".

E agora, no mundo dos e-mails e das tecnologias de comunicação on line, especialmente as mídias sociais, onde é quase impossível aproveitar a maior riqueza que a comunicação deveria proporcionar-nos, qual seja a expressão física do interlocutor, a possibilidade de machucar e sentirmo-nos machucados cresceu exponencialmente.

Estas pessoas, que facilmente se melindram, ficam ainda mais suscetíveis a estas 'crises existenciais' pois, qualquer que seja o texto que chega em nossa tela, ainda que não esteja dizendo nada demais, pode se transformar em um cavalo de batalha.

Onde está o erro? Em quem escreve sem o cuidado necessário com as palavras, esquecendo-se, que o texto, cru, não transmitirá, como fora dito acima, 'sentimentos'? Ou o problema é realmente de quem lê, a maioria de nós, desprovidos de amor próprio e extremamente fácil de nos sentirmos ofendidos?

Eu diria que nos dois casos erramos. O primeiro erro é de quem escreve, sem o necessário cuidado de trabalhar as palavras para evitar, ainda que de forma muito distante, ofender. Está certo que na maioria das vezes quem redige um texto, no ambiente de trabalho, não tem tempo e, talvez, criatividade para trabalhar o que precisa ser dito.

Mas também é certo que erra, e muito, aquele profissional que fica sempre buscando motivos, os mais fúteis possíveis, para declarar uma guerra porque o texto, segundo seu entendimento, fora ofensivo.

São inúmeros os artigos e matérias da Você S/A2 que deixam claros que as empresas, nos dias de hoje, buscam profissionais no mais alto nível desta palavra. Pessoas que se motivam, que ousam, que ousam objetivos quase inalcançáveis e, principalmente, que tem uma estima altíssima, capaz de superar quaisquer obstáculos sem que a empresa ou quaisquer de seus colaboradores precisem ficar 'dourando a pílula' na hora de falar com este vencedor.

Temos uma facilidade muito grande de dizer que "não gostamos" de uma ou outra atitude de um colega, de um e-mail ou do que fora dito em uma reunião. Mas não encontramos o mesmo tempo e nem mesmo temos a mesma iniciativa quando é oportuno agradecer, incentivar e valorizar as atitudes desta pessoa.

Também é verdade que, para determinados assuntos, um telefonema ou uma visita, é melhor do que redigir um e-mail e entrar no turbilhão dos "ruídos" da comunicação.

Se você não se encaixa neste perfil, parabéns.

Se este é o seu caso, que tal pensar um pouco e tentar, ainda que lentamente, mudar?

Só não seja muito lento, o mercado poderá não lhe esperar. Pense nisso!

Paulo de Tarso F. Castro




1. Dicionário Aurélio Buarque de Holanda Ferreira - Editora Nova Fronteira
2. Revista Você S/A - Editora Abril

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

O Jogo do Contente e o Ambiente Corporativo*


Conta a sabedoria popular um causo que é mais ou menos assim:

De madruga o telefone toca:

- Alô? É seu Carlos, é? Aqui é Uóxinton, caseiro do sítio.

- Pois não seu Washington, o que posso fazer pelo senhor? Aconteceu alguma coisa?

- Ah, não. Eu tô liganu pro sinhô prá avisá qui seu papagai morreu.
- Aquele meu papagaio campeão morreu? Como morreu?
- Di tantu cumê carne estragada.
- Mas quem foi que deu carne para o meu papagaio comer?
- Ah, foi ninguém, não sinhô. A carne era duns cavalo morto.
- Mas que cavalos, seu Washington?
- Ah, daqueles puro sangue qui o sinhô criava. Eles murreram di tantu puxá carroça di água.
- Mas que doidera é essa? Que carroça de água?
- Pra apagá o fogo do incêndio.
- Incêndio? Que incêndio?
- Na casa du sinhô… Caiu uma vela e pegô fogo nas curtina.
- Mas vela de que, se aí tem luz elétrica?
- Du velório.
- Velório? De quem?
- Da sinhora sua mãe.
- Minha mãe?!
- Sim, é qui ela apareceu aqui sem avisá e eu dei dois tiro nela pensando qui fosse um ladrão. “Mas num se preocupe não que fora isso, tá tudu bem…”

Embora engraçado, este causo narrado pelo “Uóxinton” nos diz muito sobre o que acontece no ambiente corporativo, seja em empresas privadas ou órgãos públicos.
Trata-se do tradicional “jogo do contente”, uma artimanha política, da qual muitos se utilizam para evitar uma exposição que poderia, eventualmente, comprometer suas posições, funções ou conquistas. Como temem expor suas idéias e ideais, optam por pausar suas falas, fragmentando o quanto possível notícias que, em sua opinião, poderiam contrariar o “contente ambiente” hora estabelecido.
Veja que o vendedor nunca diz, de forma direta, que as metas não foram alcançadas. Prefere o conforto de dizer que vendeu “quase” todo o estoque ou “quase” todo o número a ser atingido, ainda que este quase signifique pouco mais que 50% da expectativa gerada. Quando não menos…
A área que produz bens e serviços não diz, também, que o projeto atrasou. É mais fácil dizer que está “um pouco fora do prazo” em função da ausência de determinado recurso que “alguém” ficou de disponibilizar. Admitir que o erro é da pessoa ou da área jamais!
A expedição, o financeiro, o marketing e tantos outros departamentos, usam e abusam dos mesmos artifícios, minimizando a importância pelo que não fizeram, atribuindo a responsabilidade a terceiros, sejam estes outras pessoas, outros departamentos, outras políticas, outros governos.
Todos sabem que este modelo de discurso muito bem construído, diminui o impacto negativo junto ao chefe. Assim como também, todos os chefes sabem que é um discurso para tentar amenizar a desculpa pelo que não fez.
O grave erro do “jogo do contente” é que, se quem está fazendo o discurso lembrar-se de valorizar o chefe, a empresa e suas políticas, o resultado pouco importará. E todos ficam contentes! Só informam que ‘a mãe morreu quando a importância dada ao papagaio tornou-se o centro das atenções’. A morte da mãe do “seu Carlos” é o mal menor.
Esse comportamento e o medo excessivo de expor, é uma constante em qualquer reunião em que estejam gerentes, diretores e até presidentes. Acontece mais ou menos assim: O presidente coloca sua opinião, ávido por ouvir os que concordam e os que discordam, mesmo que a opinião seja a mais descabida do universo – e olhe lá – haverá sempre um séquito de pessoas que vão concordar, sem ressalvas.
Contudo, haverá outro grupo quase do mesmo tamanho do primeiro, que ficará em silêncio, ouvindo em seus íntimos o dito popular que “se temos dois ouvidos e uma boca, é claro que precisamos ouvir mais e falar menos”. Invariavelmente, estes vão ficar “bem na foto!”
Por último haverá um grupo muito pequeno, formado por um, dois ou três colaboradores que não só vai expor o que pensa como, ousadia das ousadias, discordará do presidente, do preferido do presidente e, até mesmo do seu chefe, do preferido do seu chefe e de outros que seguem a linha filosófica de que, “quem não puxa saco, puxa carroça!”
O dramaturgo Nelson Rodrigues celebrizou a frase “toda unanimidade é burra”.
Se for de fato isso, devemos repensar a idéia de que a maioria absoluta desses colaboradores (os que concordam e os que ficam em silêncio) podem estar errados e, por este motivo, embora correndo o risco de perder benefícios, estão corretos os que ousam expor seus pensamentos e opiniões – às vezes nadando sozinhos contra a maré.
Parabéns às empresas que possuem esses “contestadores” e, mais ainda, apóiam o ambiente para que eles continuem expondo a fragilidade das idéias construídas com foco – muitas vezes, em nosso umbigo. Serão poucas as empresas que continuarão prosperando neste competitivo oceano, de mares vermelhos, azuis e até verdes.
Para as outras empresas, onde o que prevalece é a opinião de um ou de uns poucos – os que acham que sabem tudo e de tudo – em detrimento do conhecimento e opinião dos executores de outras áreas, resta-nos lamentar.

Isso não significa ser um contestador de tudo e de todos, simplesmente pelo prazer de contestar ou, até mesmo, de ir contra pessoas, processos e idéias. É preciso ter mente construtiva para contestar e, também, para apoiar, para recuar quando preciso e para fazer com que empresas e pessoas cresçam sempre.



Do contrário, mudarão o discurso, os personagens e, no fim de tudo, a culpa será da mãe que chegou de forma inadvertida e não do capiau que a fuzilou.


Paulo de Tarso F Castro.

* Este artigo foi publicado originalmente na Revista Fenacon -  Federação Nacional das Empresas de Serviços Contábeis e das Empresas de Assessoramento, Perícias, Informações e Pesquisas  (Edição de maio/junho de 2010, páginas 26 e 27) e no Blog da Tron Informática, http://www.tron.com.br/blog/2010/05/o-jogo-do-contente-e-o-ambiente-corporativo/, em 3/5/2010)

sábado, 4 de agosto de 2012

19 anos de saudades...

Creio que cada um de nós, quando criança, tivemos um momento (ou vários) em que sentimos como que tomados pelo medo, pavor às vezes, de um dia ficarmos sem o nosso pai ou a nossa mãe.

Não sei você, mas eu tive vários momentos assim, em que ficava apavorado só de pensar que aqueles meus anjos, meu pai ou minha mãe, poderiam um dia partir deste mundo, deixando-me para trás.

Em relação a minha mãe, um anjo que Deus julgou por bem colocar em minha vida, e eu na vida dela, o pavor era tremendo e, embora tenha um amor em níveis iguais por ela e por meu pai, outro anjo de minha vida, o pensamento era recorrente em relação a ela, minha linda e gordinha baixinha.


Não sei de onde vinha este medo, não sei as razões deste sentimento, mas volta e meia eu sentia um apavorante calafrio com a idéia, insistente e comum, de que ela poderia “ir embora” cedo demais.

Pensando nesta hipótese, lembro-me especialmente de uma canção que ouvia no “Obreiros do Caminho” e que muitas vezes, ao cantarolá-la, ia as lágrimas por, novamente, pensar que este pensamento repetitivo e inseguro poderia tomar forma.

A letra da belíssima canção é esta aqui:
       

Tu és minha alegria

Minha Ternura em flor

Por isso eu canto mamãe

Sou teu pequeno

Tu és meu amor.


Quando partires do mundo

Ao paraíso no além

Guarde um cantinho pra mim

Por onde fores

Eu quero ir também


Pois bem, eis que esta situação deixou de ser hipotética e tomou forma, de uma maneira assustadora e precoce, no dia 4 de agosto de 1993, às 04:40 da madrugada, algumas horas após o dia 3, aniversário do meu pai.

Neste dia, uma quarta-feira de agosto, este meu anjo, Alda Maria, mais uma das Marias que tão bem utilizaram o nome da Mãe de Jesus, retornou ao paraíso do além, na flor de seus pouco mais de 40 anos.

Partiu, não sem antes dizer-me que esperava de mim, que ajudasse a cuidar do meu pai e da família.

Deixou conosco lições cujo preço seria e será sempre incalculável. Um legado de amor, união familiar, altruísmo sem igual e valores que, a despeito de nossa imperfeição, é o que norteia-nos para que tenhamos uma família maravilhosa.

Mas deixou, também, um esposo que além de um amigo, continuava tão apaixonado quanto possível era após tantos anos casados. Deixou filha e filhos com sérias dúvidas sobre como continuar a ter razões para sorrir novamente, além de tias e tios, primas e primos, irmãos e, até então, pais, totalmente inconsoláveis.

Deixou saudades, muitas.

E hoje, 19 anos depois, após ter sido agraciado por Deus com outros anjos em minha vida, como minha esposa, meus filhos e minha filhinha, ainda fico perguntando-me em sentida oração, para ela, minha doce mãe: “você guardou um cantinho para mim aí, não guardou?”

E, em sentida prece ao nosso Deus maravilhoso, em quem deposito toda a minha confiança de que a Vida é ato contínuo, ouço-a, a me dizer

“meu filho, minha filha, meus amores, os seus cantinhos, cativos, estão e estarão sempre guardados, em meu coração.”

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Como é difícil ser diferente neste mundo “moderno”

Como é difícil ser diferente neste mundo “moderno”

Com o passar dos anos e com a conseqüente experiência que estes anos vão lhe conferindo, aprendemos ora fácil, ora de uma forma muito difícil, o quão duro é sobreviver sendo “do seu jeito”.

Percebe-se a necessidade que algumas pessoas possuem de serem iguais para serem aceitas, quando na verdade ninguém é igual a outro alguém. Somos essencialmente diferentes e assim seremos em toda a nossa existência.

Porém, mesmo sabendo disso, há uma cobrança incisiva para que nos tornemos iguais.

Eu não gosto de música sertaneja. Isso é um fato! Mas não posso dizer que é um gênero ruim, de pessoas de baixo intelecto (em oposição a quem gosta de MPB, por exemplo, e que, dizem, é mais culta), de pessoas que tiveram uma decepção amorosa (preconceito puro) ou que essencialmente não pensam (“eu quero tchuuuu...”). É diferente do meu gosto. Nem melhor, nem pior. Apenas e tão somente diferente.

Já li em algum lugar que quando dizemos que “fulano tem bom gosto” significa que este fulano tem um gosto, para algo, exatamente igual ao nosso. Ou seja, eu vou rotulá-lo conforme o meu gosto, os meus preconceitos, as minhas dúvidas, as minhas experiências, etc. Afinal, esta vivência permitiu-me definir o que eu chamo de “bom gosto.”

Em matéria de política e religião, poderíamos desfilar um rosário de comparações. Especialmente no assunto religião, afinal, embora alguns digam que respeitam a religião do outro e até usem frases de efeito como “todos os caminhos levam a Deus”, estão mais do que convencidas de que o caminho que leva mesmo é o deles, a igreja é a deles e, claro, a forma é o que lá é apregoado.

Uma pessoa de opinião é vista por muitos como grosso ou, como já ouvi, “super sincero” em uma comparação com o personagem do ator Luis Fernando Guimarães, em um programa da Rede Globo de Televisão.

Claro que existe uma grande possibilidade de ser grosseiro sob a capa da sinceridade. Mas há como ser sincero usando a sensibilidade para não ferir. Ou seja, dá-se o recado sem machucar a pessoa que o recebe.

É certo que poucas pessoas, especialmente os líderes de empresas, querem alguém cuja característica é dizer o que pensa e expor as diferenças entre o mundo de fantasias, as vezes criado pelo empresário, onde só os bajuladores são ouvidos, e o mundo real, apresentado pelos que possuem a coragem, a ousadia e, até certo ponto a irresponsabilidade, em expor as diferenças entre um e outro e, claro, falar o que pensa, o que enxerga e como enxerga este mundo “real”.

Saliente-se que esta forma é apenas outra forma de enxergar o mesmo ponto. Nem melhor, nem pior. Apenas diferente.

Teoricamente este profissional, se existente em sua organização, deveria ser tratado a pão de ló, face a contribuição que ele dá para reposicionar a empresa e o empresário, colocando-o para PENSAR de uma forma diferente, exatamente por expor, a ele, um outro lado de uma mesma moeda.

Aceitar as diferenças é um desafio com o qual conviveremos por longos e longos milênios e, exceto pela crença religiosa que nos impele e ver esta possibilidade como possível, talvez ela nunca ocorra.

Se você acha que é meio diferente, que não tem muito o hábito de ir a favor da maré, que muitas vezes se vê pensando diferente da maioria, comemore.

O mundo não é igual em nada, porque você seria?