sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Pelo direito de desanimar-se.


Recentemente recebi um convite para, novamente, falar sobre “Depressão” sob a ótica da religião que professo e, novamente, enveredei-me para o estudo sobre esta doença mundial do nosso mundo moderno.


Salientando sempre que a depressão necessita de ajuda especializada, tanto a de cunho espiritual quanto, e principalmente, a de um profissional da área médica, percebi novamente que uma das causas é a pressão que socialmente as pessoas exercem, umas sobre as outras, apresentando-lhes um mundo perfeito em oposição ao mundo normal, este que todos nós vivemos e que, não raro, no qual temos que lidar com os vários problemas de uma vida comum, com as inumeráveis frustrações quando estamos desempenhando nossos papeis de pais, filhos, cônjuges, empregados, chefes, etc.

Tanto as orientações religiosas e espiritualistas, quanto as médicas, são convites para que saiamos de um ou outro estado de tristeza e que busquemos forças para vencer a depressão, ou o estado melancólico que a antecede, e recomecemos a vida com todas as suas cores, sorrisos e energia que só uma vida plena pode oferecer.

Nas palestras doutrinárias que ministro, invariavelmente – e como não poderia ser diferente – o convite é para que consigamos dar esta virada motivacional.

Mas, embora evite falar, não para faltar com a verdade, mas apenas sob-receio de não ser devidamente compreendido, acredito verdadeiramente que as pessoas têm o direito de desanimar-se e, até certo ponto, de curtir este período de descrédito com as coisas, com a vida, com as pessoas e com tudo o mais que o cerca.

Penso tratar-se de um período sabático e não necessariamente uma atitude negativa, do tipo “desisti da minha vida!”

Creio, aliás, que os profissionais da área médica, já citados, sabem bem como nominar este momento pelo qual todos nós passamos algumas vezes ao longo de nossas vidas.

Saliente-se que nem todo momento de tristeza é uma depressão. Como falado pelos que entendem do assunto, a depressão começa a tomar forma quando a tristeza, desencadeada por algo normal do cotidiano, começa a prolongar-se.

As causas são as mais variadas possíveis, desde um simples problema afetivo até situações mais sérias como a perda de um ente querido, a constatação de um desvio de conduta de alguém a quem se ama, etc.

Outro problema é que, quando estamos tristes, temos que conviver com as várias perguntas, algumas delas inquisidoras, do tipo: "o que você tem?"; "o que houve?"; "triste de novo?". 

Infelizmente nem sempre quem pergunta quer saber a resposta e/ou ajudar. Alguns estão apenas, e lamentavelmente, aproveitando o momento para deixar-nos ainda piores.

Outros tantos julgam que não temos o direito de ficarmos tristes, como se fosse obrigação somar-nos à sociedade e ao que ela pretende ver, todos felizes.

Calma gente. Ficar triste é, digamos, um direito.

Porém, tão ou mais importante que ter o "direito a desanimar-se" é, também,
ter a convicção interna que, passado este momento, é preciso reunir forças – através dos amigos e dos profissionais médicos – e recomeçar.

Porque infelizmente a vida não nos permite um tempo longo demais, para ficarmos curtindo este momento.

É preciso levantar-se, reerguer-se e recomeçar a jornada... até a próxima parada, até o próximo recesso.

Pense nisso!

Paulo de Tarso F Castro


Nota: este artigo poderá ser publicado em jornais, revistas e outros veículos, sem autorização específica do autor, desde que mantido integralmente, com a respectiva citação da fonte.


segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Eu Não Trabalho para Você!

Esta é a frase que 10 entre 10 empregados, funcionários e demais colaboradores de uma organização – entenda-se por colaboradores todos os que contribuem para o desenvolvimento e o sucesso desta, ou seja, os stakeholders – deveriam dizer. Mas, claro, não dizem!


Antes de “defender” este ponto de vista, é importante apresentar a contramão deste pensamento, ou seja, algumas sentenças amplamente ouvidas e divulgadas em uma instituição seja ela qual for, e que contribuem sensivelmente para que os colaboradores da mesma, não pensem em dizer algo assim. São elas:
  • “Melhor é puxar-saco do que puxar-carroça!”
  • “Você trabalha para quem paga o seu salário.”
  • “Manda quem pode, obedece quem tem juízo!”


A questão, já explorada em outro artigo meu (O jogo do contente e o ambiente corporativo) é que estamos cada vez menos preparados para termos em nossos quadros pessoas que pensam e, por isso e também pelo exagerado ego dos que dirigem as organizações, desde os tempos mais remotos, valorizamos as pessoas que trabalham para nós, os sócios, acionistas, donos, diretores, presidentes, reis e rainhas e não para a nossa organização.

Isto faz bem para o ego, para as vaidades estabelecidas, mas, por certo, muito mal para a organização, seja ela uma empresa, uma ONG, um estado, um país, etc.

É fato que precisamos de mais líderes empenhados em contratar pessoas que trabalham para o sucesso da organização e menos para eles, os “donos”.

Afinal, desde o mais alto executivo ou cargo hierárquico de uma empresa, até o seu mais básico colaborador, TODOS – exatamente todos – deveriam estar cientes de que prestam seus serviços para a empresa, e não uns para os outros e que os interesses da empresa devem ser maiores e mais perenes que os interesses individuais, ainda que dos seus maiores líderes.

Ou seja, é preciso entender que prestar serviços uns para os outros é parte de uma ação maior, a de trabalhar pelo sucesso da empresa e esta, a empresa ou organização, trabalha para o cliente final.

Considerando o caso sob este ponto de vista, fica fácil perceber que eu, você e o governador do estado, trabalhamos para o estado e que, juntos também, trabalhamos pelo país, assim como o faz, a senhora presidenta da república.

Parece apenas um jogo de palavras, mas não é!

Em um momento em que cada vez mais temos pessoas envolvidas até a alma em valorizar os que possuem como foco satisfazerem seus desejos, seus valores, suas conquistas e suas vaidades, retrato de um ego superexcitado, nada mais normal que donos de empresas, presidentes e diretores, exigirem que os colaboradores trabalhem para eles e não para organização e, o que é pior, nem sempre os interesses são comuns, ocasionando que em muitas situações, buscando satisfazer o ego do pseudo líder, temos colaboradores trabalhando contra a empresa.

Não estamos aqui defendendo a insubordinação ao líder, chefe, presidente ou a quem "manda", claro que não. O que defendemos é que líderes e liderados entendam que, todas as vezes que na intenção de atender este superior hierárquico, deixamos de lado os interesses macros da empresa e, por conseguinte, o real atendimento ao cliente final em seus interesses, estamos trabalhando contra a empresa e contra os clientes desta.

É por isso que às vezes é importante dizer a todos: eu não trabalho para você, com uma pausa e um excelente complemento: nós trabalhamos por nossa empresa ou organização. JUNTOS!

E você, trabalha exatamente para quem?

Paulo de Tarso F Castro


Nota: este artigo poderá ser publicado em jornais, revistas e outros veículos, sem autorização específica do autor, desde que mantido integralmente, com a respectiva citação da fonte.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Liderando em Tempos Difíceis


"
A maior habilidade de um líder
é desenvolver habilidades extraordinárias 
em 
pessoas comuns."

Abraham Lincoln

A história nos ensina que os grandes líderes são forjados nos momentos de crise, de extrema pressão, da busca incessante por resultados de curto prazo.
A maioria deles, embora tenham se colocado em posição de liderança, não eram líderes de direito antes de sentirem-se desafiados a assumir uma ou outra causa.
Às vezes, ao estudarmos sua importância frente a história, temos uma primeira impressão de que lutaram contra alguém, um poder, uma instituição. Mas isso é um engano, uma avaliação mais aprofundada da história nos mostrará que os grandes líderes não são aqueles que lutam contra algo ou alguém, eles lutam em favor de algo ou alguém, seja seus direitos, de sua equipe, de seu povo, de suas ideias ou ideais.
Mohandas Karamchand Gandhi liderou os indianos, não contra o domínio britânico, mas em favor da liberdade do seu povo. O foco era o bem estar e a liberdade do seu povo. Ir contra os interesses britânicos em manter o domínio sobre a Índia foi a consequência do seu objetivo principal.
O pastor americano Martin Luther King não estava contra os brancos de seu país, mas em favor da liberdade dos negros de serem tratados com igualdade, com respeito e dignidade. King era seguidor das ideias de desobediência civil não-violenta, preconizadas por Gandhi.
Madre Teresa de Calcutá não queria ser contrária as instituições que deveriam dar uma assistência digna aos pobres da Índia. Ela posicionou-se em favor dos menos favorecidos, dando-lhes o máximo de seu mínimo, fazendo o que estava a seu alcance, fazendo o seu melhor e com este árduo trabalho concretizou o projeto de apoiar os menos favorecidos da Índia.
Isso sem falar em Jesus Cristo, cujo contexto está acima de todos estes líderes “mortais” e que, em momento algum, foi contra alguém ou algo, porém esteve sempre em favor de todos, dando inclusive, uma ótima lição de liderança ao dizer que “o poder nos é dado para servir e não para ser servido”.
O verdadeiro líder deve servir.
A maioria de nós quer ser servida, em toda e qualquer situação, julgando ser este um direito inalienável que nos pertence.
Todos os exemplos citados são de líderes que se colocaram nesta posição em momentos de grande turbulência e, com a serenidade e firmeza necessária, mantiveram o curso da embarcação.
Um outro estágio, quase o único em que compreendemos existir posição de liderança, é o profissional. 
Liderar uma equipe, departamento ou organização, principalmente em um momento de crise, é um enorme desafio. Porém, maiores são as possibilidades de que os líderes aqui forjados tornem-se as pessoas que efetivamente fazem a diferença em suas organizações, em sua comunidade, em seu país.
Ser um líder que faz a diferença é, sobretudo, ter o controle da situação, ter um posicionamento claro que o permita estar no lugar certo na hora em que é preciso, e ter muito amor para vencer o ego, creditando o sucesso à equipe por ele liderada — sempre.
Por fim, não nos esqueçamos jamais que, tal líder possui inúmeros atributos que o caracterizam, sendo o principal deles o prazer em servir, em fazer parte da solução, em ser parte da equipe.
Pense nisso.

Este artigo foi publicado originalmente no Boletim CRC-SP (Conselho Regional de Contabilidade do Estado de São Paulo), número 161, ANO XXXVII DEZ/2006 JAN/FEV/2007  –-http://www.crcsp.org.br/portal_novo/publicacoes/boletim/boletins/boletim161.pdf, pág. 39, e em junho de 2010, no Blog da Tron Informática - http://www.tron.com.br/blog/2010/06/liderando-em-tempos-dificeis/.

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Por que não bati minhas metas?


“Quando o mar está calmo, qualquer barco navega bem.”
William Shakespeare


Talvez por uma questão cultural, herança do hábito de adiarmos nossas decisões e atitudes na construção de um futuro melhor, talvez pela incapacidade de planejamento, novamente um fruto do estilo imediatista sul-americano ou, ainda, por todos estes fatores e mais alguns, é fato que temos grande dificuldade em trabalharmos com planejamento, metas e avaliação dos resultados.

Por esta deficiência, acabamos navegando conforme os ventos, sem fazer o correto ajuste das velas para melhor direcionar a embarcação.

É aquela velha história: não planejamos, não nos tornamos competentes em avaliar os números e, ainda assim, obtemos resultados (batemos a meta), tornamo-nos ávidos em afirmar que é fruto da competência que temos do nosso forte traquejo comercial, da capacidade realizadora com que fomos agraciados pelo Senhor do Universo, etc. Em outras palavras, “somos o cara!”.

Porém, se as vendas não ocorrem no volume suficiente, se as metas não são batidas, direcionamos nossa embarcação para o mar das desculpas, um oceano inesgotável de oportunidades que nos deixa na zona de conforto que é terceirizar a culpa do insucesso a fatores que, segundo esta crença, não nos pertence.

Neste oceano das desculpas sem fins, temos sempre algumas que são recorrentes, tais como:

  • O governo, caminhando de mãos dadas com ‘a política’ é um companheiro firme e forte na hora de justificar o insucesso nas vendas. Se as vendas caem, atribuo a inflação, a deflação, ao aumento do dólar, a queda do dólar ou a crise na Europa, deixando claro que a incapacidade dos governos em governar, são as causas primeiras da queda em minhas vendas, pouco importando se é um problema global ou local.
  • A concorrência, outro alvo certeiro que o rol das desculpas utiliza-se, ora para dizer que o preço que ela pratica é baixo demais, ora para afirmar que o produto que eles vendem não é semelhante ao nosso ou, ainda, que trabalham com uma política de descontos que chega a ser absurda.
  • A nossa empresa. Sim, eis uma vilã que eventualmente é personificada na pessoa dos diretores, do gerente de vendas ou de ambos que, segundo o entendimento do vendedor, estão unidos para prejudica-lo a realizar os maravilhosos feitos para os quais ele está mais do que preparado, vender, vender e vender. Mas, como a empresa não lhe dá o produto certo, o preço certo, o prazo certo e, só sabe cobrar, pouco há que ser feito.
  • E para encerrar esta lista, não há como deixar de citar como um grande vilão das não vendas, o produto ou serviço a ser vendido. Diz-se que ele não está devidamente pronto para competir com os produtos e serviços da concorrência, que não possui a qualidade certa, que não pode ser entregue no tempo que o cliente quer e, claro, que não tem o preço ideal. Entenda-se por preço ideal o menor possível. Por prazo de entrega, o menor. Por prazo de pagamento do cliente, o maior.

Estas observações parecem cômicas? Infelizmente são trágicas.

Tragicamente encontradas na maioria das empresas do país, cantadas em prosas e versos por seus vendedores e aceitas de maneira subserviente por diretores e gerentes que se recusam a mexer nesta estrutura, exatamente por não enxergarem que as vendas poderiam ser potencializadas com pequenos e pontuais ajustes.

Vale a máxima: vendas é um processo!

Mas quantos diretores e gestores efetivamente tratam-na assim? Se tratassem o processo, com a preocupação em medir cada uma das suas importantes fases, saberiam, por exemplo, quantos leads são necessários inserir em um Funil de Vendas, no início do mês, para que ao término a empresa tenha “x” clientes conquistados que lhe permita vender o suficiente para bater a meta.

Mas, se não sabem qual a taxa de conversão da sua equipe de vendas, ou do seu vendedor, quanto menos saberão dos seus leads, quantos não compraram por questões de preço? Ou não concordância com os prazos? Ou, ainda, por insatisfação com o atendimento do vendedor?

Quantos clientes perderam para concorrência, quantos ganharam dela, quantos chegaram até a empresa por indicação de outros clientes, quantos foram perdidos pelos mesmos motivos, etc.

É possível que existam centenas de desculpas para não vender e, provavelmente muitas delas sejam até verdadeiras, mas, enquanto os gestores não investirem em um processo efetivo de vendas, capacitando não só a empresa mas, e principalmente, a equipe de vendas, dentro de um conceito de que todos devem vender, não só produtos e serviços, mas valores agregados, as empresas continuarão pagando caro para vender barato.

E este ônus tornar-se-á, antes mesmo que a organização perceba, um custo impagável no cada vez mais competitivo mercado, consumindo-lhes tempo, motivação e muito dinheiro.

Pense nisso.

* Artigo originalmente publicado no Jornal Diário da Manhã, junho 2011.

terça-feira, 30 de outubro de 2012

O Melindre

MELINDRE, segundo consta no Dicionário Aurélio1, trata-se de um substantivo masculino que dentre outros significados, aplica-se também para "Facilidade de magoar-se, de ofender-se".


Realmente é incrível a facilidade que possuímos de nos sentirmos magoados, ofendidos, vilipendiados, desprezados, esquecidos e atacados em nossa "honra".

E agora, no mundo dos e-mails e das tecnologias de comunicação on line, especialmente as mídias sociais, onde é quase impossível aproveitar a maior riqueza que a comunicação deveria proporcionar-nos, qual seja a expressão física do interlocutor, a possibilidade de machucar e sentirmo-nos machucados cresceu exponencialmente.

Estas pessoas, que facilmente se melindram, ficam ainda mais suscetíveis a estas 'crises existenciais' pois, qualquer que seja o texto que chega em nossa tela, ainda que não esteja dizendo nada demais, pode se transformar em um cavalo de batalha.

Onde está o erro? Em quem escreve sem o cuidado necessário com as palavras, esquecendo-se, que o texto, cru, não transmitirá, como fora dito acima, 'sentimentos'? Ou o problema é realmente de quem lê, a maioria de nós, desprovidos de amor próprio e extremamente fácil de nos sentirmos ofendidos?

Eu diria que nos dois casos erramos. O primeiro erro é de quem escreve, sem o necessário cuidado de trabalhar as palavras para evitar, ainda que de forma muito distante, ofender. Está certo que na maioria das vezes quem redige um texto, no ambiente de trabalho, não tem tempo e, talvez, criatividade para trabalhar o que precisa ser dito.

Mas também é certo que erra, e muito, aquele profissional que fica sempre buscando motivos, os mais fúteis possíveis, para declarar uma guerra porque o texto, segundo seu entendimento, fora ofensivo.

São inúmeros os artigos e matérias da Você S/A2 que deixam claros que as empresas, nos dias de hoje, buscam profissionais no mais alto nível desta palavra. Pessoas que se motivam, que ousam, que ousam objetivos quase inalcançáveis e, principalmente, que tem uma estima altíssima, capaz de superar quaisquer obstáculos sem que a empresa ou quaisquer de seus colaboradores precisem ficar 'dourando a pílula' na hora de falar com este vencedor.

Temos uma facilidade muito grande de dizer que "não gostamos" de uma ou outra atitude de um colega, de um e-mail ou do que fora dito em uma reunião. Mas não encontramos o mesmo tempo e nem mesmo temos a mesma iniciativa quando é oportuno agradecer, incentivar e valorizar as atitudes desta pessoa.

Também é verdade que, para determinados assuntos, um telefonema ou uma visita, é melhor do que redigir um e-mail e entrar no turbilhão dos "ruídos" da comunicação.

Se você não se encaixa neste perfil, parabéns.

Se este é o seu caso, que tal pensar um pouco e tentar, ainda que lentamente, mudar?

Só não seja muito lento, o mercado poderá não lhe esperar. Pense nisso!

Paulo de Tarso F. Castro




1. Dicionário Aurélio Buarque de Holanda Ferreira - Editora Nova Fronteira
2. Revista Você S/A - Editora Abril

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

O Jogo do Contente e o Ambiente Corporativo*


Conta a sabedoria popular um causo que é mais ou menos assim:

De madruga o telefone toca:

- Alô? É seu Carlos, é? Aqui é Uóxinton, caseiro do sítio.

- Pois não seu Washington, o que posso fazer pelo senhor? Aconteceu alguma coisa?

- Ah, não. Eu tô liganu pro sinhô prá avisá qui seu papagai morreu.
- Aquele meu papagaio campeão morreu? Como morreu?
- Di tantu cumê carne estragada.
- Mas quem foi que deu carne para o meu papagaio comer?
- Ah, foi ninguém, não sinhô. A carne era duns cavalo morto.
- Mas que cavalos, seu Washington?
- Ah, daqueles puro sangue qui o sinhô criava. Eles murreram di tantu puxá carroça di água.
- Mas que doidera é essa? Que carroça de água?
- Pra apagá o fogo do incêndio.
- Incêndio? Que incêndio?
- Na casa du sinhô… Caiu uma vela e pegô fogo nas curtina.
- Mas vela de que, se aí tem luz elétrica?
- Du velório.
- Velório? De quem?
- Da sinhora sua mãe.
- Minha mãe?!
- Sim, é qui ela apareceu aqui sem avisá e eu dei dois tiro nela pensando qui fosse um ladrão. “Mas num se preocupe não que fora isso, tá tudu bem…”

Embora engraçado, este causo narrado pelo “Uóxinton” nos diz muito sobre o que acontece no ambiente corporativo, seja em empresas privadas ou órgãos públicos.
Trata-se do tradicional “jogo do contente”, uma artimanha política, da qual muitos se utilizam para evitar uma exposição que poderia, eventualmente, comprometer suas posições, funções ou conquistas. Como temem expor suas idéias e ideais, optam por pausar suas falas, fragmentando o quanto possível notícias que, em sua opinião, poderiam contrariar o “contente ambiente” hora estabelecido.
Veja que o vendedor nunca diz, de forma direta, que as metas não foram alcançadas. Prefere o conforto de dizer que vendeu “quase” todo o estoque ou “quase” todo o número a ser atingido, ainda que este quase signifique pouco mais que 50% da expectativa gerada. Quando não menos…
A área que produz bens e serviços não diz, também, que o projeto atrasou. É mais fácil dizer que está “um pouco fora do prazo” em função da ausência de determinado recurso que “alguém” ficou de disponibilizar. Admitir que o erro é da pessoa ou da área jamais!
A expedição, o financeiro, o marketing e tantos outros departamentos, usam e abusam dos mesmos artifícios, minimizando a importância pelo que não fizeram, atribuindo a responsabilidade a terceiros, sejam estes outras pessoas, outros departamentos, outras políticas, outros governos.
Todos sabem que este modelo de discurso muito bem construído, diminui o impacto negativo junto ao chefe. Assim como também, todos os chefes sabem que é um discurso para tentar amenizar a desculpa pelo que não fez.
O grave erro do “jogo do contente” é que, se quem está fazendo o discurso lembrar-se de valorizar o chefe, a empresa e suas políticas, o resultado pouco importará. E todos ficam contentes! Só informam que ‘a mãe morreu quando a importância dada ao papagaio tornou-se o centro das atenções’. A morte da mãe do “seu Carlos” é o mal menor.
Esse comportamento e o medo excessivo de expor, é uma constante em qualquer reunião em que estejam gerentes, diretores e até presidentes. Acontece mais ou menos assim: O presidente coloca sua opinião, ávido por ouvir os que concordam e os que discordam, mesmo que a opinião seja a mais descabida do universo – e olhe lá – haverá sempre um séquito de pessoas que vão concordar, sem ressalvas.
Contudo, haverá outro grupo quase do mesmo tamanho do primeiro, que ficará em silêncio, ouvindo em seus íntimos o dito popular que “se temos dois ouvidos e uma boca, é claro que precisamos ouvir mais e falar menos”. Invariavelmente, estes vão ficar “bem na foto!”
Por último haverá um grupo muito pequeno, formado por um, dois ou três colaboradores que não só vai expor o que pensa como, ousadia das ousadias, discordará do presidente, do preferido do presidente e, até mesmo do seu chefe, do preferido do seu chefe e de outros que seguem a linha filosófica de que, “quem não puxa saco, puxa carroça!”
O dramaturgo Nelson Rodrigues celebrizou a frase “toda unanimidade é burra”.
Se for de fato isso, devemos repensar a idéia de que a maioria absoluta desses colaboradores (os que concordam e os que ficam em silêncio) podem estar errados e, por este motivo, embora correndo o risco de perder benefícios, estão corretos os que ousam expor seus pensamentos e opiniões – às vezes nadando sozinhos contra a maré.
Parabéns às empresas que possuem esses “contestadores” e, mais ainda, apóiam o ambiente para que eles continuem expondo a fragilidade das idéias construídas com foco – muitas vezes, em nosso umbigo. Serão poucas as empresas que continuarão prosperando neste competitivo oceano, de mares vermelhos, azuis e até verdes.
Para as outras empresas, onde o que prevalece é a opinião de um ou de uns poucos – os que acham que sabem tudo e de tudo – em detrimento do conhecimento e opinião dos executores de outras áreas, resta-nos lamentar.

Isso não significa ser um contestador de tudo e de todos, simplesmente pelo prazer de contestar ou, até mesmo, de ir contra pessoas, processos e idéias. É preciso ter mente construtiva para contestar e, também, para apoiar, para recuar quando preciso e para fazer com que empresas e pessoas cresçam sempre.



Do contrário, mudarão o discurso, os personagens e, no fim de tudo, a culpa será da mãe que chegou de forma inadvertida e não do capiau que a fuzilou.


Paulo de Tarso F Castro.

* Este artigo foi publicado originalmente na Revista Fenacon -  Federação Nacional das Empresas de Serviços Contábeis e das Empresas de Assessoramento, Perícias, Informações e Pesquisas  (Edição de maio/junho de 2010, páginas 26 e 27) e no Blog da Tron Informática, http://www.tron.com.br/blog/2010/05/o-jogo-do-contente-e-o-ambiente-corporativo/, em 3/5/2010)

sábado, 4 de agosto de 2012

19 anos de saudades...

Creio que cada um de nós, quando criança, tivemos um momento (ou vários) em que sentimos como que tomados pelo medo, pavor às vezes, de um dia ficarmos sem o nosso pai ou a nossa mãe.

Não sei você, mas eu tive vários momentos assim, em que ficava apavorado só de pensar que aqueles meus anjos, meu pai ou minha mãe, poderiam um dia partir deste mundo, deixando-me para trás.

Em relação a minha mãe, um anjo que Deus julgou por bem colocar em minha vida, e eu na vida dela, o pavor era tremendo e, embora tenha um amor em níveis iguais por ela e por meu pai, outro anjo de minha vida, o pensamento era recorrente em relação a ela, minha linda e gordinha baixinha.


Não sei de onde vinha este medo, não sei as razões deste sentimento, mas volta e meia eu sentia um apavorante calafrio com a idéia, insistente e comum, de que ela poderia “ir embora” cedo demais.

Pensando nesta hipótese, lembro-me especialmente de uma canção que ouvia no “Obreiros do Caminho” e que muitas vezes, ao cantarolá-la, ia as lágrimas por, novamente, pensar que este pensamento repetitivo e inseguro poderia tomar forma.

A letra da belíssima canção é esta aqui:
       

Tu és minha alegria

Minha Ternura em flor

Por isso eu canto mamãe

Sou teu pequeno

Tu és meu amor.


Quando partires do mundo

Ao paraíso no além

Guarde um cantinho pra mim

Por onde fores

Eu quero ir também


Pois bem, eis que esta situação deixou de ser hipotética e tomou forma, de uma maneira assustadora e precoce, no dia 4 de agosto de 1993, às 04:40 da madrugada, algumas horas após o dia 3, aniversário do meu pai.

Neste dia, uma quarta-feira de agosto, este meu anjo, Alda Maria, mais uma das Marias que tão bem utilizaram o nome da Mãe de Jesus, retornou ao paraíso do além, na flor de seus pouco mais de 40 anos.

Partiu, não sem antes dizer-me que esperava de mim, que ajudasse a cuidar do meu pai e da família.

Deixou conosco lições cujo preço seria e será sempre incalculável. Um legado de amor, união familiar, altruísmo sem igual e valores que, a despeito de nossa imperfeição, é o que norteia-nos para que tenhamos uma família maravilhosa.

Mas deixou, também, um esposo que além de um amigo, continuava tão apaixonado quanto possível era após tantos anos casados. Deixou filha e filhos com sérias dúvidas sobre como continuar a ter razões para sorrir novamente, além de tias e tios, primas e primos, irmãos e, até então, pais, totalmente inconsoláveis.

Deixou saudades, muitas.

E hoje, 19 anos depois, após ter sido agraciado por Deus com outros anjos em minha vida, como minha esposa, meus filhos e minha filhinha, ainda fico perguntando-me em sentida oração, para ela, minha doce mãe: “você guardou um cantinho para mim aí, não guardou?”

E, em sentida prece ao nosso Deus maravilhoso, em quem deposito toda a minha confiança de que a Vida é ato contínuo, ouço-a, a me dizer

“meu filho, minha filha, meus amores, os seus cantinhos, cativos, estão e estarão sempre guardados, em meu coração.”

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Como é difícil ser diferente neste mundo “moderno”

Como é difícil ser diferente neste mundo “moderno”

Com o passar dos anos e com a conseqüente experiência que estes anos vão lhe conferindo, aprendemos ora fácil, ora de uma forma muito difícil, o quão duro é sobreviver sendo “do seu jeito”.

Percebe-se a necessidade que algumas pessoas possuem de serem iguais para serem aceitas, quando na verdade ninguém é igual a outro alguém. Somos essencialmente diferentes e assim seremos em toda a nossa existência.

Porém, mesmo sabendo disso, há uma cobrança incisiva para que nos tornemos iguais.

Eu não gosto de música sertaneja. Isso é um fato! Mas não posso dizer que é um gênero ruim, de pessoas de baixo intelecto (em oposição a quem gosta de MPB, por exemplo, e que, dizem, é mais culta), de pessoas que tiveram uma decepção amorosa (preconceito puro) ou que essencialmente não pensam (“eu quero tchuuuu...”). É diferente do meu gosto. Nem melhor, nem pior. Apenas e tão somente diferente.

Já li em algum lugar que quando dizemos que “fulano tem bom gosto” significa que este fulano tem um gosto, para algo, exatamente igual ao nosso. Ou seja, eu vou rotulá-lo conforme o meu gosto, os meus preconceitos, as minhas dúvidas, as minhas experiências, etc. Afinal, esta vivência permitiu-me definir o que eu chamo de “bom gosto.”

Em matéria de política e religião, poderíamos desfilar um rosário de comparações. Especialmente no assunto religião, afinal, embora alguns digam que respeitam a religião do outro e até usem frases de efeito como “todos os caminhos levam a Deus”, estão mais do que convencidas de que o caminho que leva mesmo é o deles, a igreja é a deles e, claro, a forma é o que lá é apregoado.

Uma pessoa de opinião é vista por muitos como grosso ou, como já ouvi, “super sincero” em uma comparação com o personagem do ator Luis Fernando Guimarães, em um programa da Rede Globo de Televisão.

Claro que existe uma grande possibilidade de ser grosseiro sob a capa da sinceridade. Mas há como ser sincero usando a sensibilidade para não ferir. Ou seja, dá-se o recado sem machucar a pessoa que o recebe.

É certo que poucas pessoas, especialmente os líderes de empresas, querem alguém cuja característica é dizer o que pensa e expor as diferenças entre o mundo de fantasias, as vezes criado pelo empresário, onde só os bajuladores são ouvidos, e o mundo real, apresentado pelos que possuem a coragem, a ousadia e, até certo ponto a irresponsabilidade, em expor as diferenças entre um e outro e, claro, falar o que pensa, o que enxerga e como enxerga este mundo “real”.

Saliente-se que esta forma é apenas outra forma de enxergar o mesmo ponto. Nem melhor, nem pior. Apenas diferente.

Teoricamente este profissional, se existente em sua organização, deveria ser tratado a pão de ló, face a contribuição que ele dá para reposicionar a empresa e o empresário, colocando-o para PENSAR de uma forma diferente, exatamente por expor, a ele, um outro lado de uma mesma moeda.

Aceitar as diferenças é um desafio com o qual conviveremos por longos e longos milênios e, exceto pela crença religiosa que nos impele e ver esta possibilidade como possível, talvez ela nunca ocorra.

Se você acha que é meio diferente, que não tem muito o hábito de ir a favor da maré, que muitas vezes se vê pensando diferente da maioria, comemore.

O mundo não é igual em nada, porque você seria?