sexta-feira, 1 de novembro de 2013

A Violência Nossa de Cada Dia

Ontem fui surpreendido com uma notícia que me abalou muito.

Um homem de bem, com suas particularidades, seus defeitos e suas virtudes, exatamente como somos nós, homens e mulheres de bem, resolveu partilhar com sua filha e seu filho, ambos adolescentes, um momento de lazer em família. Nada mais saudável, nada mais elogiável, nada mais justo.

Foi este homem assistir a uma partida de futebol e, sabedor que o estádio estaria lotado e que lamentavelmente poderia ter que enfrentar a insanidade de bandidos travestidos de torcedores, comprou seus ingressos antecipadamente, escolheu um local mais seguro para ficar, chegou mais cedo e assistiu ao jogo partilhando com os filhos sua torcida por seu time do coração, bem como os momentos de angústia, raiva e alegria, absolutamente normal para um momento assim.

Quanto ao receito das brigas de torcidas, estava este pai de família, empresário de sucesso e, atualmente, servidor do governo do estado, seguro de que poderia contar com a proteção dos trabalhadores incansáveis e determinados da nossa Polícia Militar.

Para cercar-se ainda mais de cuidados, preservando sua saúde e integridade, bem como de sua filha e seu filho, optou este senhor – como sempre faz, por sair um pouco mais tarde do estádio e, em segurança, regressar a seu lar.

Porém, o que ele não contava e jamais iria esperar, é que alguns outros servidores do Estado de Goiás, servidores estes que tem o DEVER de proteger os cidadãos, utilizando-se da farda da respeitada e centenária instituição que é a Polícia Militar, abusariam agressivamente do poder que lhes confere a Constituição da República, fazendo de uma simples abordagem policial, destas de rotina, uma inequívoca demonstração de que algumas pessoas não mereceriam ter nascido, quanto mais terem crescido e ocuparem, como hoje, uma função social que inclui, como diz o slogan da própria corporação, PROTEGER E SERVIR.

E foi isso que aconteceu a este pai de família, caro amigo de longa data, das boas e das horas ruins, a quem devo muito mais que obrigação, respeito e gratidão.

A pessoa em questão, Sr. Reilly Rangel, foi agredido covardemente pelas pessoas que teriam o dever de protegê-lo, bem como a sua filha e filho que, pasmem, assistiu a uma abordagem policial equivocada, com requintes de humilhação e crueldade, além de terem sidos ESQUECIDOS pelo poder público que, ao deterem o pai, não sem antes agredi-lo, deixou estas ainda crianças a mercê da própria sorte, às duas horas da madrugada, sem sequer permitirem ao referido pai falar-lhes, restando a este, gritos de pedido de socorro e “protejam meus filhos”.

Foi detido covardemente, como se faz com os bandidos das piores espécies, não considerando em momento algum ser este um cidadão de bem, cumpridor dos seus deveres, respeitador e, evidentemente não alcoolizado, fora de qualquer estereótipo de quem deveríamos ter “cuidado” em uma abordagem de rotina.

O próprio comandante da corporação, nas entrevistas para TV e jornais, reconheceu que a ação foi equivocada e totalmente fora dos padrões da Polícia Militar.

Alguns amigos me ligaram dizendo que provavelmente ouve por parte do Reilly uma ação que refletiu nesta reação.

Para né!

Ainda que o Reilly tenha argumentado e, ainda que tenha ficado exaltado e, ainda mais, que tenha ficado irado – o que não creio que ocorreu, NADA justificaria a REAÇÃO vista nas imagens acima apresentadas (vide link). Nada Justifica!

Saliente-se que, mesmo que esta pessoa não tivesse o histórico que tem, não seria ainda merecedor de um ato de violência tão grotesco, altamente repreensivo por parte de qualquer pessoa de bem.

Espera-se que nenhum ser humano passe por uma situação assim, cujos reflexos são irreparáveis, tanto nele quanto em seus filhos e família.

A nós todos, resta-nos esperar que, após as providências legais, tanto a Corporação quanto qualquer outra pessoa que tem o dever de zelar pela segurança e bem estar do próximo, tirem deste momento as melhores lições, impulsionando-as a não mais incorrem nesta repreensível situação.

Este é o meu desabafo, o desabafo de um pai que, ao ver estas cenas, ficou imaginando o quão desafiante seria acordar para um novo e diferente dia, sabendo-se vítima de um ser humano cada vez mais despreparado para lidar com outro ser humano.

Não tem como não ficar abalado ao pensar que ontem foi com ele, amanhã poderá ser comigo ou com você e, se ficarmos apenas calados, em um futuro não muito distante a barbárie será a “forma de governo” que teremos.

Que Deus tenha piedade de nós, pobres e irracionais humanos.

 Paulo de Tarso F Castro

quarta-feira, 12 de junho de 2013

PROTESTOS

Muitas pessoas reverberam os protestos e nunca saíram sequer na porta de seus confortáveis aposentos para, efetivamente, fazerem parte de algo...

Estas mesmas pessoas, quando podem "protestar" pelo voto, entregam-se as conveniências políticas e sociais, não só votando em um "indicado" como até mesmo trabalhando para estes.

Em outras oportunidades, nos seus não menos confortáveis automóveis, usam a esperteza para avançar o sinal, ultrapassar pela faixa da direita - ou pelo acostamento -, estacionar em faixa dupla ou sobre a faixa de pedestres, etc.

Outros ainda aproveitam os pseudo-protestos para extravasarem sua dose de violência e vandalismo.

E um grupo pequeno efetivamente protesta, contra ou a favor, seguindo seus princípios, valores e consciência. (A estes, meus cumprimentos.)

Por isso, embora respeite o DIREITO dos protestos, lamento muito pela insanidade em que estes momentos se tornam e, claro, mais ainda por ver pessoas e empresas pagarem o CUSTO do tal direito.

A linha que tem separado o legítimo direito ao protesto, a do vandalismo, é muito tênue e, não raras vazes, tem confundido-se.

Mas, se até quando publicamos uma frase alusiva ao nosso time de futebol, somos criticados, quanto mais seremos ao discordar desta balbúrdia em que se tornou este "direito" social de protestar e pressionar.

Vida que segue... 


Paulo de Tarso F Castro



Nota: este artigo poderá ser publicado em jornais, revistas e outros veículos, sem autorização específica do autor, desde que mantido integralmente, com a respectiva citação da fonte.

quinta-feira, 16 de maio de 2013

CORINTHIANS, FUTEBOL E OUTROS PITACOS


Ao acessar o facebook hoje e “correr os olhos” nos vários
comentários sobre a eliminação do Sport Club Corinthians Paulista, da Copa Libertadores da América de 2013, resolvi partilhar um pouco do que penso sobre a forma passional e até certo ponto perigosa com que muitos de nós torcemos, ou não, considerando que esta passionalidade ataca ambos os grupos.

Eu gosto muito deste esporte bretão, muito mesmo.

Não jogo o que gosto, claro. Aliás, não ouso dizer que jogo, apenas que “brinco” com os amigos que, por sinal, são em sua maioria excelentes amigos.

No aspecto torcedor, tento ser o mais racional possível, embora não seja este o papel de um torcedor. O torcedor tem que ser passional, se não perde a graça, daí ter que ouvir os vilanovenses curtirem com os esmeraldinos, algo cada vez mais raro, e os esmeraldinos, com aqueles. Normal, nada mais emocional também.

Ontem, fruto desta paixão pelo futebol, fui assistir mais um jogo da Copa Libertadores, desta vez de um dos melhores times do Brasil na atualidade, o Corinthians, contra um dos maiores clubes argentino das últimas décadas, o Boca Júniors que, conforme não cansou de repetir a mídia nacional, está em um péssimo momento no Campeonato Argentino, subentendendo que seria fácil o Corinthians passar por ele.

Mas, como diz um antigo dito popular, “O jogo é jogado e o Lambari é pescado!”

E neste jogo jogado o Boca tinha tudo para continuar a excelente primeira partida ocorrida lá em Buenos Aires e, se o Corinthians mantivesse o que jogou lá, nada mais normal do que empatar ou até mesmo perder o jogo em São Paulo.

Foto: Fernando Dantas/Gazeta Press
Mas NÃO FOI O QUE ACONTECEU. O que vimos, lamentavelmente, foi um arrogante árbitro de futebol, e seu respectivo trio, especialmente os assistentes das laterais, errarem feio e, com isso, prejudicarem um time e sua respectiva torcida.

Errou (?), isso é um fato!

Não há como discutir as evidências tão claras quanto as que foram possíveis de serem vistas nas imagens. Não foi um erro, aparentemente foram quatro.

A mídia nacional e a internacional estão dizendo isso. 

Bom, aí quem está lendo até aqui, especialmente os fanáticos torcedores de outros clubes, já estão prontos para ir aos comentários e xingar-me por ser eu mais um do “bando de loucos”!

Não sou! Meu único time é o Goiás Esporte Clube, o maior e melhor do centro-oeste brasileiro. Pronto, quanto a isso podem ir lá aos comentários e falarem o que pensam. Mas, antes de falar, leiam o restante.

O que me trouxe a escrever aqui é sobre a forma exagerada com que alguns torcem e, em nome da tal torcida, ofendem no mais baixo nível pessoas que, em alguns casos e em especial através das redes sociais, não conhecem.

É “Cristão” xingando cada nome que envergonharia qualquer não cristão, pais e mães de família que ofendem filhos e filhas, inclusive incitando-os a serem violentos (afinal, dão o exemplo) e, claro, torcedores cegamente apaixonados que não enxergam nada além do próprio nariz e, neste afã de torcer enlouquecidamente, não veem méritos em seus adversários, preferindo apenas o discurso cansativo e retórico de que o outro clube, se ganhou, foi roubado. Se perdeu, foi merecimento.

Neste aspecto, até entendo. É a tal passionalidade apaixonante que, a priori, nenhum mal deveria fazer.

Mas preocupa-me, insisto em dizer, com os que perdem o prumo e aproveitam-se das Redes Sociais para desfiarem um turbilhão de ofensas a outras pessoas que, em condições normais, são homens e mulheres de bem, cumpridores e cumpridoras de suas lidas diárias, que dão e recebem respeito nas relações sociais do dia a dia, inclusive em suas instituições religiosas.

Estas pessoas, como que tomadas por um espírito trevoso, aproveitam-se do futebol para falarem e fazerem – muitos dos que falam não vão às vias de fato, não vão por falta vontade, mas por falta de oportunidade – o que em condições normais reprovariam.

Nas arquibancadas ou nas resenhas da rua, poderemos tirar sarro uns dos outros, tentando mostrar o quanto meu time é melhor que o seu, etc. Mas o que preocupa-me, novamente retomo o assunto central, é aproveitar este momento para ofensas impensáveis para um cidadão de bem.

Eu torci muito pelo Palmeiras contra o Tijuana, embora tivesse absoluta certeza de que nem o Palmeiras, nem o Tijuana tivessem jogado o suficiente para merecer chegar onde chegaram.

Ontem, torci muito para o Corinthians que jogou melhor que o Boca, fez por merecer passar e, não fosse o senhor árbitro Carlos Amarilla e sua trupe, estaria na próxima fase e, como não está jogando bem, acredito até que não passaria dela.

Este Corinthians é o mesmo que, em minha opinião, vencerá mais uma vez o Santos que, ironia do futebol, jogou pior que o São Paulo e, ainda assim, passou para a final do Paulista.

Isso é uma análise, nem certa nem errada, mas é a minha análise.

E assim fazendo, vou dando meus pitacos sem caminhar para o campo das ofensas, respeitando as opiniões, inclusive as apaixonadas e pedindo, humildemente, que deem-me e deem-nos o direito de pensar diferente.

Mas, se fosse assim tão racional, não seria futebol.

Então, até o próximo apaixonado comentário futebolístico.



Abraços!

Paulo de Tarso F Castro


Nota: este artigo poderá ser publicado em jornais, revistas e outros veículos, sem autorização específica do autor, desde que mantido integralmente, com a respectiva citação da fonte.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Pelo direito de desanimar-se.


Recentemente recebi um convite para, novamente, falar sobre “Depressão” sob a ótica da religião que professo e, novamente, enveredei-me para o estudo sobre esta doença mundial do nosso mundo moderno.


Salientando sempre que a depressão necessita de ajuda especializada, tanto a de cunho espiritual quanto, e principalmente, a de um profissional da área médica, percebi novamente que uma das causas é a pressão que socialmente as pessoas exercem, umas sobre as outras, apresentando-lhes um mundo perfeito em oposição ao mundo normal, este que todos nós vivemos e que, não raro, no qual temos que lidar com os vários problemas de uma vida comum, com as inumeráveis frustrações quando estamos desempenhando nossos papeis de pais, filhos, cônjuges, empregados, chefes, etc.

Tanto as orientações religiosas e espiritualistas, quanto as médicas, são convites para que saiamos de um ou outro estado de tristeza e que busquemos forças para vencer a depressão, ou o estado melancólico que a antecede, e recomecemos a vida com todas as suas cores, sorrisos e energia que só uma vida plena pode oferecer.

Nas palestras doutrinárias que ministro, invariavelmente – e como não poderia ser diferente – o convite é para que consigamos dar esta virada motivacional.

Mas, embora evite falar, não para faltar com a verdade, mas apenas sob-receio de não ser devidamente compreendido, acredito verdadeiramente que as pessoas têm o direito de desanimar-se e, até certo ponto, de curtir este período de descrédito com as coisas, com a vida, com as pessoas e com tudo o mais que o cerca.

Penso tratar-se de um período sabático e não necessariamente uma atitude negativa, do tipo “desisti da minha vida!”

Creio, aliás, que os profissionais da área médica, já citados, sabem bem como nominar este momento pelo qual todos nós passamos algumas vezes ao longo de nossas vidas.

Saliente-se que nem todo momento de tristeza é uma depressão. Como falado pelos que entendem do assunto, a depressão começa a tomar forma quando a tristeza, desencadeada por algo normal do cotidiano, começa a prolongar-se.

As causas são as mais variadas possíveis, desde um simples problema afetivo até situações mais sérias como a perda de um ente querido, a constatação de um desvio de conduta de alguém a quem se ama, etc.

Outro problema é que, quando estamos tristes, temos que conviver com as várias perguntas, algumas delas inquisidoras, do tipo: "o que você tem?"; "o que houve?"; "triste de novo?". 

Infelizmente nem sempre quem pergunta quer saber a resposta e/ou ajudar. Alguns estão apenas, e lamentavelmente, aproveitando o momento para deixar-nos ainda piores.

Outros tantos julgam que não temos o direito de ficarmos tristes, como se fosse obrigação somar-nos à sociedade e ao que ela pretende ver, todos felizes.

Calma gente. Ficar triste é, digamos, um direito.

Porém, tão ou mais importante que ter o "direito a desanimar-se" é, também,
ter a convicção interna que, passado este momento, é preciso reunir forças – através dos amigos e dos profissionais médicos – e recomeçar.

Porque infelizmente a vida não nos permite um tempo longo demais, para ficarmos curtindo este momento.

É preciso levantar-se, reerguer-se e recomeçar a jornada... até a próxima parada, até o próximo recesso.

Pense nisso!

Paulo de Tarso F Castro


Nota: este artigo poderá ser publicado em jornais, revistas e outros veículos, sem autorização específica do autor, desde que mantido integralmente, com a respectiva citação da fonte.


segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Eu Não Trabalho para Você!

Esta é a frase que 10 entre 10 empregados, funcionários e demais colaboradores de uma organização – entenda-se por colaboradores todos os que contribuem para o desenvolvimento e o sucesso desta, ou seja, os stakeholders – deveriam dizer. Mas, claro, não dizem!


Antes de “defender” este ponto de vista, é importante apresentar a contramão deste pensamento, ou seja, algumas sentenças amplamente ouvidas e divulgadas em uma instituição seja ela qual for, e que contribuem sensivelmente para que os colaboradores da mesma, não pensem em dizer algo assim. São elas:
  • “Melhor é puxar-saco do que puxar-carroça!”
  • “Você trabalha para quem paga o seu salário.”
  • “Manda quem pode, obedece quem tem juízo!”


A questão, já explorada em outro artigo meu (O jogo do contente e o ambiente corporativo) é que estamos cada vez menos preparados para termos em nossos quadros pessoas que pensam e, por isso e também pelo exagerado ego dos que dirigem as organizações, desde os tempos mais remotos, valorizamos as pessoas que trabalham para nós, os sócios, acionistas, donos, diretores, presidentes, reis e rainhas e não para a nossa organização.

Isto faz bem para o ego, para as vaidades estabelecidas, mas, por certo, muito mal para a organização, seja ela uma empresa, uma ONG, um estado, um país, etc.

É fato que precisamos de mais líderes empenhados em contratar pessoas que trabalham para o sucesso da organização e menos para eles, os “donos”.

Afinal, desde o mais alto executivo ou cargo hierárquico de uma empresa, até o seu mais básico colaborador, TODOS – exatamente todos – deveriam estar cientes de que prestam seus serviços para a empresa, e não uns para os outros e que os interesses da empresa devem ser maiores e mais perenes que os interesses individuais, ainda que dos seus maiores líderes.

Ou seja, é preciso entender que prestar serviços uns para os outros é parte de uma ação maior, a de trabalhar pelo sucesso da empresa e esta, a empresa ou organização, trabalha para o cliente final.

Considerando o caso sob este ponto de vista, fica fácil perceber que eu, você e o governador do estado, trabalhamos para o estado e que, juntos também, trabalhamos pelo país, assim como o faz, a senhora presidenta da república.

Parece apenas um jogo de palavras, mas não é!

Em um momento em que cada vez mais temos pessoas envolvidas até a alma em valorizar os que possuem como foco satisfazerem seus desejos, seus valores, suas conquistas e suas vaidades, retrato de um ego superexcitado, nada mais normal que donos de empresas, presidentes e diretores, exigirem que os colaboradores trabalhem para eles e não para organização e, o que é pior, nem sempre os interesses são comuns, ocasionando que em muitas situações, buscando satisfazer o ego do pseudo líder, temos colaboradores trabalhando contra a empresa.

Não estamos aqui defendendo a insubordinação ao líder, chefe, presidente ou a quem "manda", claro que não. O que defendemos é que líderes e liderados entendam que, todas as vezes que na intenção de atender este superior hierárquico, deixamos de lado os interesses macros da empresa e, por conseguinte, o real atendimento ao cliente final em seus interesses, estamos trabalhando contra a empresa e contra os clientes desta.

É por isso que às vezes é importante dizer a todos: eu não trabalho para você, com uma pausa e um excelente complemento: nós trabalhamos por nossa empresa ou organização. JUNTOS!

E você, trabalha exatamente para quem?

Paulo de Tarso F Castro


Nota: este artigo poderá ser publicado em jornais, revistas e outros veículos, sem autorização específica do autor, desde que mantido integralmente, com a respectiva citação da fonte.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Liderando em Tempos Difíceis


"
A maior habilidade de um líder
é desenvolver habilidades extraordinárias 
em 
pessoas comuns."

Abraham Lincoln

A história nos ensina que os grandes líderes são forjados nos momentos de crise, de extrema pressão, da busca incessante por resultados de curto prazo.
A maioria deles, embora tenham se colocado em posição de liderança, não eram líderes de direito antes de sentirem-se desafiados a assumir uma ou outra causa.
Às vezes, ao estudarmos sua importância frente a história, temos uma primeira impressão de que lutaram contra alguém, um poder, uma instituição. Mas isso é um engano, uma avaliação mais aprofundada da história nos mostrará que os grandes líderes não são aqueles que lutam contra algo ou alguém, eles lutam em favor de algo ou alguém, seja seus direitos, de sua equipe, de seu povo, de suas ideias ou ideais.
Mohandas Karamchand Gandhi liderou os indianos, não contra o domínio britânico, mas em favor da liberdade do seu povo. O foco era o bem estar e a liberdade do seu povo. Ir contra os interesses britânicos em manter o domínio sobre a Índia foi a consequência do seu objetivo principal.
O pastor americano Martin Luther King não estava contra os brancos de seu país, mas em favor da liberdade dos negros de serem tratados com igualdade, com respeito e dignidade. King era seguidor das ideias de desobediência civil não-violenta, preconizadas por Gandhi.
Madre Teresa de Calcutá não queria ser contrária as instituições que deveriam dar uma assistência digna aos pobres da Índia. Ela posicionou-se em favor dos menos favorecidos, dando-lhes o máximo de seu mínimo, fazendo o que estava a seu alcance, fazendo o seu melhor e com este árduo trabalho concretizou o projeto de apoiar os menos favorecidos da Índia.
Isso sem falar em Jesus Cristo, cujo contexto está acima de todos estes líderes “mortais” e que, em momento algum, foi contra alguém ou algo, porém esteve sempre em favor de todos, dando inclusive, uma ótima lição de liderança ao dizer que “o poder nos é dado para servir e não para ser servido”.
O verdadeiro líder deve servir.
A maioria de nós quer ser servida, em toda e qualquer situação, julgando ser este um direito inalienável que nos pertence.
Todos os exemplos citados são de líderes que se colocaram nesta posição em momentos de grande turbulência e, com a serenidade e firmeza necessária, mantiveram o curso da embarcação.
Um outro estágio, quase o único em que compreendemos existir posição de liderança, é o profissional. 
Liderar uma equipe, departamento ou organização, principalmente em um momento de crise, é um enorme desafio. Porém, maiores são as possibilidades de que os líderes aqui forjados tornem-se as pessoas que efetivamente fazem a diferença em suas organizações, em sua comunidade, em seu país.
Ser um líder que faz a diferença é, sobretudo, ter o controle da situação, ter um posicionamento claro que o permita estar no lugar certo na hora em que é preciso, e ter muito amor para vencer o ego, creditando o sucesso à equipe por ele liderada — sempre.
Por fim, não nos esqueçamos jamais que, tal líder possui inúmeros atributos que o caracterizam, sendo o principal deles o prazer em servir, em fazer parte da solução, em ser parte da equipe.
Pense nisso.

Este artigo foi publicado originalmente no Boletim CRC-SP (Conselho Regional de Contabilidade do Estado de São Paulo), número 161, ANO XXXVII DEZ/2006 JAN/FEV/2007  –-http://www.crcsp.org.br/portal_novo/publicacoes/boletim/boletins/boletim161.pdf, pág. 39, e em junho de 2010, no Blog da Tron Informática - http://www.tron.com.br/blog/2010/06/liderando-em-tempos-dificeis/.

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Por que não bati minhas metas?


“Quando o mar está calmo, qualquer barco navega bem.”
William Shakespeare


Talvez por uma questão cultural, herança do hábito de adiarmos nossas decisões e atitudes na construção de um futuro melhor, talvez pela incapacidade de planejamento, novamente um fruto do estilo imediatista sul-americano ou, ainda, por todos estes fatores e mais alguns, é fato que temos grande dificuldade em trabalharmos com planejamento, metas e avaliação dos resultados.

Por esta deficiência, acabamos navegando conforme os ventos, sem fazer o correto ajuste das velas para melhor direcionar a embarcação.

É aquela velha história: não planejamos, não nos tornamos competentes em avaliar os números e, ainda assim, obtemos resultados (batemos a meta), tornamo-nos ávidos em afirmar que é fruto da competência que temos do nosso forte traquejo comercial, da capacidade realizadora com que fomos agraciados pelo Senhor do Universo, etc. Em outras palavras, “somos o cara!”.

Porém, se as vendas não ocorrem no volume suficiente, se as metas não são batidas, direcionamos nossa embarcação para o mar das desculpas, um oceano inesgotável de oportunidades que nos deixa na zona de conforto que é terceirizar a culpa do insucesso a fatores que, segundo esta crença, não nos pertence.

Neste oceano das desculpas sem fins, temos sempre algumas que são recorrentes, tais como:

  • O governo, caminhando de mãos dadas com ‘a política’ é um companheiro firme e forte na hora de justificar o insucesso nas vendas. Se as vendas caem, atribuo a inflação, a deflação, ao aumento do dólar, a queda do dólar ou a crise na Europa, deixando claro que a incapacidade dos governos em governar, são as causas primeiras da queda em minhas vendas, pouco importando se é um problema global ou local.
  • A concorrência, outro alvo certeiro que o rol das desculpas utiliza-se, ora para dizer que o preço que ela pratica é baixo demais, ora para afirmar que o produto que eles vendem não é semelhante ao nosso ou, ainda, que trabalham com uma política de descontos que chega a ser absurda.
  • A nossa empresa. Sim, eis uma vilã que eventualmente é personificada na pessoa dos diretores, do gerente de vendas ou de ambos que, segundo o entendimento do vendedor, estão unidos para prejudica-lo a realizar os maravilhosos feitos para os quais ele está mais do que preparado, vender, vender e vender. Mas, como a empresa não lhe dá o produto certo, o preço certo, o prazo certo e, só sabe cobrar, pouco há que ser feito.
  • E para encerrar esta lista, não há como deixar de citar como um grande vilão das não vendas, o produto ou serviço a ser vendido. Diz-se que ele não está devidamente pronto para competir com os produtos e serviços da concorrência, que não possui a qualidade certa, que não pode ser entregue no tempo que o cliente quer e, claro, que não tem o preço ideal. Entenda-se por preço ideal o menor possível. Por prazo de entrega, o menor. Por prazo de pagamento do cliente, o maior.

Estas observações parecem cômicas? Infelizmente são trágicas.

Tragicamente encontradas na maioria das empresas do país, cantadas em prosas e versos por seus vendedores e aceitas de maneira subserviente por diretores e gerentes que se recusam a mexer nesta estrutura, exatamente por não enxergarem que as vendas poderiam ser potencializadas com pequenos e pontuais ajustes.

Vale a máxima: vendas é um processo!

Mas quantos diretores e gestores efetivamente tratam-na assim? Se tratassem o processo, com a preocupação em medir cada uma das suas importantes fases, saberiam, por exemplo, quantos leads são necessários inserir em um Funil de Vendas, no início do mês, para que ao término a empresa tenha “x” clientes conquistados que lhe permita vender o suficiente para bater a meta.

Mas, se não sabem qual a taxa de conversão da sua equipe de vendas, ou do seu vendedor, quanto menos saberão dos seus leads, quantos não compraram por questões de preço? Ou não concordância com os prazos? Ou, ainda, por insatisfação com o atendimento do vendedor?

Quantos clientes perderam para concorrência, quantos ganharam dela, quantos chegaram até a empresa por indicação de outros clientes, quantos foram perdidos pelos mesmos motivos, etc.

É possível que existam centenas de desculpas para não vender e, provavelmente muitas delas sejam até verdadeiras, mas, enquanto os gestores não investirem em um processo efetivo de vendas, capacitando não só a empresa mas, e principalmente, a equipe de vendas, dentro de um conceito de que todos devem vender, não só produtos e serviços, mas valores agregados, as empresas continuarão pagando caro para vender barato.

E este ônus tornar-se-á, antes mesmo que a organização perceba, um custo impagável no cada vez mais competitivo mercado, consumindo-lhes tempo, motivação e muito dinheiro.

Pense nisso.

* Artigo originalmente publicado no Jornal Diário da Manhã, junho 2011.